terça-feira, 14 de julho de 2009

Elegia

Nos tempos de minha infância, Deus era o santo de madeira estrategicamente disposto à meia altura no escritório de meu pai. Imponente como todo Deus há de ser, responde, ao menos em parte, pelo medo de escritórios que me acompanhou por toda a vida.
Quanto ao medo de Igrejas, este veio com o tempo e com a filiação ao PCB.
Abdiquei de boa parte de minha saúde lutando como um cruzado por ideais que, hoje, desconfio nunca terem sido meus de fato.
Comunista. Subversivo. Terrorista. De tudo fui um pouco e nada fui por inteiro. 'A vida inteira que poderia ter sido e que não foi', preso que estava à rigidez de uma ideologia caduca.
A verdade é que a proximidade da morte nos dá instrumentos para rir dos tempos idos.
Hoje, o desejo de dinamitar sozinho a Ilha de Manhattan não passa de puro devaneio.
Nossas antigas convicções se restrigem às páginas dos antigos livros que o tempo se encarregou de esquecê-los entre as estantes.

Quanto a ti, meu jovem
- Peço que continues a assaltar o céu. É bem capaz que, de posse de foices e martelos, consigas roubar algumas poucas estrelas que sejam e possas iluminar os passos dos nossos companheiros que ainda teimam, quixotescamente, em combater os moinhos de vento que, um dia, julguei reais.

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